[OLHAR ESCRITAS / LER IMAGENS]
curadoria de Maria de Fátima Lambert
8 Mar ▷ 17 Ago'25
Os casos apresentados são emblemáticos , são históricos , e contemplam vertentes plásticas subsumidas na perspetiva de Olhares e Escritas no fio do tempo . Sob o título de Vasos Comunicantes , podem ver se palavras, caligrafias e alfabetos; leem se imagens e reconhecessem [ou não] significados. Enfrentam se narrativas visuais e desvelam se episódios inesgotáveis. Os nomes de artistas significativos persistem ativos na historiografia de arte portuguesa, justificando que a presente mostra sequencialize cenários, investigações e curadorias anteriores. Sob égide da escrita e da visão , pensam se as criações artísticas como bens afetuosos; fruem se paladares e t[r]ocam se ideias poéticas em modo Vasos Comunicantes.
Artistas presentes:
ADELINA LOPES
ANA VIDIGAL
ANTÓNIO OLAIO
AVELINO SÁ
BEATRIZ ALBUQUERQUE
EDUARDO BATARDA
EMERENCIANO
JOANA REGO
JOÃO LOURO
JOÃO VIEIRA
LENORA DE BARROS
NAZARENO
PAULO CLIMACHAUSKA
PEDRO POUSADA
PEDRO PROENÇA
ROSANA RICALDE
RUTE ROSAS
SOFIA PIDWELL
Fio do tempo & histórico
ALIGHIERO BOETI
ANA HATHERLY
ANNA MARIA MAIOLINO
ANTONI MUNTADAS
A.R. PENCK
CILDO MEIRELES
DA ROCHA
DANIEL BLAUFUKS
DONALD BAECHLER
EMERENCIANO
GERARDO BURMESTER
GERHARD MERZ
MIGUEL D’ALTE
JOSEPH BEUYS
NELSON LEIRNER
PISTOLETTO
ZULMIRO DE CARVALHO
Texto Curatorial:
A presente exposição – Vasos Comunicantes – equaciona-se em projetos curatoriais e de investigação prévios, ao revisitar e atualizar linguagens artísticas nos cenários português e brasileiro. O idioma de suas dinâmicas une e diferencia, apresentando-se na seleção de autores emblemáticos/históricos e de artistas que contemplam vertentes plásticas – distintivas e recentes inscritas na perspetiva de olhares e escritas, olhar palavras | ler imagens. Nunca se esgotam, todavia, os nomes significativos, a destacar na historiografia de arte portuguesa e brasileira, donde se preverem edições futuras que, assim complementem esta mostra.
A história da arte portuguesa nos séculos XX e XXI também se constrói, ao tomar o escopo relacional entre imagens e escritas. Atenda-se à persistência e relevância de autores e poéticas incontornáveis, articulando-se aos dinamismos das artes visuais, poesia/literatura e artes performativas.
Se, logo em inícios do século XX no panorama português, Amadeo de Souza-Cardoso (entre outros) recorreu a sinais de escrita, estabelecendo-lhes espaço privilegiado nas composições, fê-lo em consentaneidade às linguagens cubista sintética, futurista e dadaísta então emergentes. À semelhança de outros artistas insaciados, a integração de elementos (caligráficos, tipográficos) na pintura em si, supunha a projeção até soluções combinatórias emergentes. Demonstrava-se a cumplicidade que as palavras protagonizavam, tomadas pela sedução da criatividade e da provocação. O recurso a epigrafes, textos ou palavras sustentava os discursos inflamados nos vários Manifestos que proliferavam. Nessas proclamações, por vezes dogmatizadoras, a praxis e os códigos linguísticos reciclavam conceitos, outorgando-lhes asserções deliberadas e pragmatistas. O círculo fechava-se, entre a aparente libertação da palavra recortada ou casuisticamente usada e o compromisso ideológico e/ou estético perante um público a angariar para magnas causas; ou seja, a palavra e sua caligrafia/tipografia organizavam-se num exercício quase autofágico.
Nos anos 1960, fruto da situação socio-intelectual que os protagonistas culturais assumiam, posicionava-se a contemporaneidade portuguesa urgente. Concretizou-se a movimentação designada por poesia experimental – po-ex. Os autores procediam de uma área e/ou formação quer poético-literária, quer artística-plástica: E.M. de Melo e Castro, Alberto Pimenta, José Alberto Marques e Ana Hatherly, Salette Tavares, entre outros. Por outro lado, a cumplicidade com a música e a performance arte evidenciou-se, nos casos emblemáticos de Jorge Peixinho ou Clotilde Rosa.
Numa focagem histórica e georreferenciada, assinale-se que Ana Hatherly apresentou, após o evento de Lisboa, na Galeria Alvarez do Porto em 1968, dois trabalhos emblemáticos, a Operação I e a Operação II. A sessão, recorde-se, constou de uma palestra em que a poetisa abordou o tema, finalidades e contextualização teórica subjacentes aos trabalhos expostos, seguida de prolongado debate. O colóquio concluiu-se com uma intervenção de música experimental, que consistiu, precisamente, na audição simultânea de três composições de Jorge Peixinho.
Procurando reativar as viagens históricas de olhares e escritas, apresenta-se um Núcleo no fio do tempo, ou seja, uma primeira compilação de autores nacionais e internacionais, em cujas obras se evidencia a pregnância deste binómio – olhares e escritas. Escolheram-se obras que, na maioria, têm a especificidade de serem múltiplos, para assinalar os contornos inovadores que viriam a ser assimilados, em termos historiográficos, sociológicos e de mercado, promovendo uma democratização do acesso à Arte. Por outro lado, programou-se um Screening de Vídeo a la Carte, reunindo obras de artistas portugueses e brasileiros, usufruindo do Auditório da Fundação.
Finalmente, gostar-se-ia que esta exposição fosse um Tratado das Estruturas Poéticas – parafraseando Ana Hatherly, que se veem, ouvem, vivificam e leem, ao ativarmos as nossas circunstâncias e adesões.
Maria de Fátima Lambert. Porto, fevereiro 2025.