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Diálogo dos Elementos

FRANCISCO LARANJO
curadoria de Maria de Fátima Lambert, em parceria com o Arquivo Francisco Laranjo


28 Set'24 ▷ 16 Fev'25

Diálogo dos Elementos toma nome da pintura de Francisco Laranjo, que se reflete no texto escrito pelo próprio (e recuperado por Francisco Miguel Laranjo no contexto do Arquivo Francisco Laranjo). Assumiu-se como mote agregador para este projeto expositivo. Apresentam-se obras realizadas por Francisco Laranjo no período compreendido entre 1977 e até 2019. A compilação das peças de desenho e pintura, de cerâmica e azulejo, de esculturas demonstram a extrema capacidade em estruturar uma obra conjunta, cuja coerência significa vivificação e uma criatividade plural no domínio de materiais e técnicas que se vê inesgotável.

À conceção quanto à concretização, preside a ideia maior de Criação, ponderada enquanto aliada ao pensamento sobre o Cosmos. As grandes forças que desde os primórdios incitaram a humanidade atuam na persistência e busca constante de refletir sobre culturas e civilizações em todo o mundo. Francisco Laranjo, enquanto investigador, pensador e professor sempre analisou e interpretou de forma superior a diversidade em que os valores estéticos coincidem com os valores humanistas, éticos, societários, patrimoniais, revelando a consistência (e harmonia) de sua identidade pessoal. Percorrendo esta exposição-arquivo, revivem-se tópicos constitutivos da filosofia pré-socrática, viajando entre os tempos substantivos do mito, da mitologia e da contemporaneidade.

Em Francisco Laranjo, a convivência de unidades singulares (uno) e múltiplas encontrou conciliação e equilíbrio, vivificando denominadores comuns que, ao longo de décadas, se verificam lúcidos e felizes. A experiência da multiplicidade coerente dos elementos/matérias/técnicas, nas suas diferentes linguagens e aceções, propicia vivências de equilíbrio e silêncio alimentado pela boa gestão de preenchimentos e vazios – quer iconográficos, quer conceituais. Pensando sobre qual o elemento que tenha concebido o Cosmos, na sua obra clarificam-se poderes quase alquímicos, projeções insuspeitas que transitam entre décadas. Existem, portanto, forças matriciais e derradeiras que regulam a conciliação entre razão pura e a razão prática, em consonância à sua capacidade para ajuizar sobre a criação (poiésis), quer se veja sublime, agradável ou bela. Pois, foi sempre na senda da Harmonia que glosou a sua produção: quer na palavra escrita, desenhada ou pintada; quer na peça volumétrica ou plana com que nos brindou. As marcas dos seus dedos eternizam-se em peças de esculturas ou esconderam-se sob o domínio dos pincéis. Em Diálogo dos Elementos, creio reencontrar a convicção de Almada Negreiros, quando identificava as duas definições de Harmonia: aquela que está radicada na relação numérica sensível (domínio do peito), e a que habita o inteligível - domínio transcendente do mental. A primeira decifra-se, está plasmada, na linguagem legível, a segunda é/será incompreensível ao sensível, perdurando no tempo e nas gerações da humanidade. É herança, simultaneamente do pessoal e do coletivo, dir-se-ia. Assim, vejam-se as criações de Francisco Laranjo que – tal como o tempo circular do mito, se reúnem em mais de quatro décadas, na sua diversidade e unidade sempre a consolidar-se e a respirar inteligência feliz para quem o conheceu e com ele conviveu. A Harmonia foi-lhe idêntica, por fundamento e base, ainda que gerando configurações diversas e ricas.

Apresenta-se uma seleção de obras, denotativas deste índice de Harmonia e fraternidade dialogada dos Elementos. Esta mostra, como se depreende, abre itinerários para contextualizar a sua obra diversa, pois revela peças inéditas, pondera eixos de compreensão e interpretação, sendo apenas possível, atendendo ao processo de investigação que se desenvolve no contexto do Arquivo Francisco Laranjo.